Muros derribados

Você se lembra de mim? Sabes quem eu sou? O tempo é algo tão maravilhoso e impiedoso ao mesmo tempo, hoje depois de todo esse tempo as palavras já estão ensombreadas não aparecem mais como antigamente.

Onde eu me escondo? dentro do meu passado, e tu? onde te escondes? dentro da sua covardia e infantilidade eu acredito, o telefone toca e preferes não acreditar, ouve a minha voz e corre. Existe algo muito ilário em tudo isso, eu fico imaginando você literalmente correr - é muito cômico imaginar - acompanhe comigo: ring ring ring(toca o telefone), do lado de lá uma voz feminina - tenho certeza que és tu - que diz: - Alô!! Nestes curtos segundos entre o discar, tocar e ouvir a sua voz eu penso em tudo que vivemos, do lado de cá em uma repentina estagnação penso em dar seguimento com a comunicação que acabara de iniciar e me questiono em um tempo extremamente incomensurável se digo algo ou apenas aprecio a sua voz como se estivesse na primaveira embaixo de uma árvore em um belo gramado verde ouvindo os cantos dos pássaros e da mesma forma desfrutando da paz que invade o coração de um homem nessas situações, me encho de toda a coragem que acumulei nas longas horas que passei pensando em ti e respondo: - Alo! por favor não desligue... e como se um raio tivesse caído entre nós, desligas o telefone rápidamente e vira-se depressa enclinando o corpo para frente disparando em uma arrancada olímpica correndo para um fundo negro sumindo na escuridão do desconhecido, na minha mente tenho a idéia de uma pequena mesa de telefone em madeira pura, marróm, com um aparelho branco em cima e ao fundo um cromaqui negro, do lado de cá? apenas o retorno à realidade ouvindo aquele maldito toque que diz em sua monotônica melodia: comunicação encerrada(tú tú tú tú...).

Veja se não é muito engraçado toda essa criação. Eu poderia escrever capítulos e capítulos de um romance ou novela mexicana só pensando em você, mas as palavras estão começando a entregar seus bilhetes azuis, estão colocando as espadas encostadas na parede amarrando seus cavalos e baixando as suas cornetas acredito que está chegando a hora de recolher a tropa e desistir da conquista, os romanos são mais fortes e já passaram das fronteiras do norte avançando pelas colinas e em breve terão tomado toda a região e aquele que era um inocente objetivo de solidão e apartheid chegará à sua concretização onde a obra estará completa com as nossas mansões em ruínas e um cenário de completa destruição.